Análise Literária de O Demônio Familiar, de José de Alencar
A peça, encenada aos 5 de novembro de 1857 e publicada pela primeira vez em 1858, foi o primeiro grande drama escrito por José de Alencar.
Influenciado por Alexandre Dumas Filho (1824-1895), Alencar produziu uma peça de tese, considerada um marco divisor entre o romantismo teatral e a dramaturgia social, de cunho mais realista, conduzindo sua obra dentro de um panorama de crítica das convenções morais da sociedade burguesa. Seu caráter realista busca o efeito moral, a integração do indivíduo nos quadros da sociedade, procurando discutir a presença do escravo no convívio das relações familiares do segundo império, bem como as relações entre dinheiro e casamento.
Seu tema central é a calúnia, motivo que alimenta a intriga da peça, representada pela figura de Pedro, escravo que serve a Eduardo.
A qualidade da peça é fortalecida pela autenticidade do retrato da sociedade burguesa brasileira do começo da segunda metade do século XIX. Suas personagens são verossímeis, contrastando com personagens tipicamente românticas, idealizadas, viventes em mundo róseo.
A principal crítica da peça é ao casamento burguês, ao relacionamento conjugal viciado pelo interesse econômico.
A peça apresenta duas ações: a ação dinâmica, que terá no escravo Pedro seu eixo e a ação moral, representada por Eduardo, alter ego do próprio José de Alencar.
O Demônio Familiar estabelece intertexto explícito com a ópera O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, de 1815.
Outro aspecto polêmico é a visão abolicionista apresentada pelo autor, que era deputado pelo partido Conservador e, portanto, antiabolicionista. Boa parte da crítica é solidária à sugestão abolicionista do autor quando Eduardo resolve alforriar Pedro para puni-lo pelas intrigas do criado, que teria utilizado a malícia e a calúnia, aproveitando-se de seu convívio com a família para atender a interesse próprio, não se importando com as conseqüências de seus atos. Não há que de negar que o caráter da peça venha a de uma ação prática de abolicionismo. Entretanto, outra parte da crítica observa que o deputado José Martiniano era conservador e, portanto, antiabolicionista. Não negando sua formação social e política, o autor sugere a necessidade de afastar do seio da família, valor maior defendido durante toda a peça, o escravo, cuja malícia só poderia expor os familiares ao rompimento da paz doméstica.
Ainda, nesse mesmo raciocínio, o protagonista Eduardo considera seu ato não um prêmio para as leviandades se seu escravo, mas um castigo, uma vez que Pedro deverá tornar-se, a partir daquele momento, responsável pelos próprios atos.
Há, ainda, que de observar que se Alencar se mostra romântico, conservador e moralista no decorrer da obra, mas a ridicularização da personagem Azevedo, pela mistura de palavras portuguesas e francesas, evidencia seu nacionalismo crítico, que antecipa, já no período romântico, os ideais defendidos por Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia e Tarsila do Amaral, entre outros, no movimento antropófago, no Modernismo.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Olha Regininha o nosso blog ficou o maximo né !!
ResponderExcluir